A épica jornada de quatro jangadeiros cearenses, em 1941, será recriada e contada no filme Jangadeiros da São Pedro, produzido pela produtora pernambucana Viu Cine e com previsão de lançamento em 2021. A história, digna de um grande roteiro de cinema, é uma extraordinária mobilização dos trabalhadores da pesca em busca de direitos.
O longa-metragem, que tem a direção do premiado Neco Tabosa, terá duração de 70 minutos e equilibra registros em live-action com animação 2D cutout, apostando na estética do documentário com trechos ficcionais, para recriar o emblemático raid da São Pedro, ocorrido em Fortaleza, na década de 1940.
O filme recria a jornada de quatro jangadeiros que saíram da capital cearense, a bordo de uma precária jangada, e navegaram em direção ao Rio de Janeiro, capital federal à época. O objetivo desta missão era exigir do presidente Getúlio Vargas a inclusão dos pescadores na Consolidação das Leis Trabalhistas(CLT), instrumento jurídico recém-criado no país que garantia aos trabalhadores direitos básicos, como férias e salário mínimo.
Foram 61 dias de viagem, com escalas nas capitais nordestinas e ampla cobertura da imprensa. O protesto dos jangadeiros mobilizou o país e chamou a atenção do renomado diretor Orson Welles, responsável por reconstituir, pela primeira vez no cinema, a mobilização dos pescadores, incluindo este evento no seu incompleto It's all true.
É esta história, repleta de temperos épicos, históricos e fantásticos, que será contada pelo filme Jangadeiros da São Pedro.
" O foco aqui é todo ajustado para revelar o pensamento dos jangadeiros, homens de educação formal precarizada mas de muita sabedoria na construção de relações comunitárias, na leitura dos ventos e da navegação guiada pelas estrelas. No Jangadeiros da São Pedro, tentamos colocar estes homens no centro da narrativa. Eles contam, por meio de um recurso ficcional, a própria história", conta Ulisses Brandão, produtor executivo do fiilme.
No elenco de voz do trecho em animação, nomes já consagrados do cinema, da dança e do teatro pernambucano, como Arthur Canavarro(Som ao redor, Fim de Festa e Organismo), o professor, ator, músico e psicológo Lepê Correia, o dançarino Orum Santana e o dramaturgo Samuel Santos. Eles incorporam os quatro jangadeiros envolvidos no histórico raid cearense.
"Esse filme é importante porque resgata vozes não-gravadas de personagens da História do Brasil que sempre foram pouco registrados", comentou Brandão
O acervo documental que apoia a produção do filme é bem rico e vai desde o diário de bordo de um dos jangadeiros até a linguagem contemporânea da poesia falada do Slam das Minas, muito forte em Pernambuco e São Paulo. Produções acadêmicas também foram importantes referências neste processo, em especial o trabalho da historiadora cearense Berenice Abreu, uma das maiores conhedores da mobilização dos jangadeiros.
O filme é mais um projeto da produtora de cinema Viu Cine, responsável por obras de sucesso como o longa-metragem Recife Assombrado e as séries de animação Além da Lenda e Pedrinho e a chuteira da sorte.
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